Considerando a idéia de que a doença da adição tem causas múltiplas, tanto biológicas, quanto psicológicas e sociais, trabalha-se com uma concepção teórica voltada à compreensão do sujeito em sua globalidade, tanto no que tange a seus aspectos físicos quanto emocionais, bem como à qualidade de pertencimento e de suas relações sociais. A teoria e o fazer definem a metodologia. Então, não basta querer auxiliar, mas compreender e fazer com que compreendam, tanto adictos quanto família e sociedade, o universo da correlação de forças que a dependência química e etílica envolve. Na Comunidade, parte-se de uma concepção de que o poder não se centra em um só, não se baseia em uma idéia narcisística. Trata-se, pois, não de um campo de concentração, tampouco de um espaço onde há vítimas e algozes. A Comunidade, com seus monitores e coordenador, por antes vivenciarem experiências aproximadas, por toda a qualificação e todo o investimento profissional, pelo ousar teórico e prático, constitui-se em uma unidade de tratamento não somente ao adicto, mas à família, e propicia o cuidado mútuo entre membros da equipe.
O período de tratamento, a princípio, é de seis (06) meses ininterruptos, dividido em três etapas:
1- Desintoxicação e adaptação;
2- Conscientização e reformulação;
3- Reinserção social.
1 – Desintoxicação e adaptação: os dois primeiros meses serão importantes para a desintoxicação que não é somente orgânica. A dependência química deve ser encarada do ponto de vista bio-psico-social, como esclarece Ballone (2005):
Devemos entender a dependência química como uma doença bio-psíco-social, formada por componentes biológicos, psicológicos e de contexto social. É claro que as estratégias de abordagem do problema devem incluir, igualmente, elementos biológicos, psicológicos e sociais. Por isso não deve ser tratada apenas a doença cerebral subjacente à drogadicção, mas tratar, sobretudo, as alterações emocionais do paciente, bem como abordar os problemas sociais. (BALLONE, 2005).
Aqui, inicia-se a redescoberta de valores, adaptando-se ao programa e desintoxicando através de promover o autocuidado e da sociabilidade, com seminários e temáticas sobre a doença em diversos pontos. Utilizamos os doze passos do AA (alcoólicos anônimos), e o residente começa a perceber o valor da vida em abstinência. Estimulamos a prática do 1º, 2º e 3º passos do AA, favorecendo as relações interpessoais, fora o passo do mês.
2- Conscientização e reformulação: do 3º ao 4º mês, acontece o período de tratamento e reabilitação propriamente dito. Nesse período, as atividades serão intensificadas no mergulhar dentro de si, olhar pra sua história de vida e, a partir dessa imersão em si mesmo, ressignificar a própria vida, buscando a superação de comportamentos inadequados que o levam ao uso de drogas. Nesta etapa do processo terapêutico, trabalha-se o 4º, 5º, 6º e 7º passos do AA.
3- Reinserção social: do 5º ao 6º mês trata-se do período de reinserção social, quando o usuário prepara-se para voltar ao convívio social. É o período para o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento para o convívio com a família e a sociedade, e preparação para o mundo do trabalho. O PAS, nesse período, estará focado no projeto de vida, voltado especialmente para a reinserção no mundo do trabalho e na volta do convívio familiar. A partir do 5º mês o residente passa os finais de semana em casa com os familiares, ao retornar para a Comunidade, ele volta a exercer suas atividades, e recebe apoio no sentido de trabalhar suas maiores dificuldades no que diz respeito a sua reinserção social. A Reinserção Social é o processo através do qual o sujeito reestrutura suas características de personalidade e a sua vida, desenvolvendo competências de autonomia e responsabilidade, apropriando-se de sua dignidade e cidadania e resgatando a sua auto-estima. A reinserção também contribui para a eficácia do tratamento, conduzindo à realização pessoal e ao restabelecimento das redes sociais de suporte (trabalho, instituições de ensino, dentre outras), promovendo estabilidade física, emocional e social do sujeito. É importante ressaltar que o período de tratamento de 06 meses é indicado para aquele usuário com comprometimentos graves decorrentes do uso de drogas, e que busca uma forma de lidar com a compulsão ao uso dessas substâncias, e que deseja abster-se delas. Por esse motivo, a adesão ao tratamento em CT deverá ser voluntária — é o sujeito que deve escolher essa forma de tratamento, e não outra pessoa escolher para ele. Além disso, existe também um significado relacionado ao aspecto da espiritualidade presente na proposta de tratamento, que está relacionada aos 06 meses como um período necessário para o renascimento. Em alguns casos específicos, o tratamento pode ser mais curto ou mais longo. A equipe, juntamente com o residente, pode entender que não há necessidade da permanência pelo período de 06 meses; por outro, em outros casos, pode-se perceber a necessidade de permanência por um período superior a este. Percebe-se assim a necessidade da flexibilidade do PAS, já que cada caso é um caso, nem todas as intervenções servem para todas as pessoas. Em determinados casos, as pessoas saem da comunidade e não encontram na família, na comunidade ou no mercado formal de trabalho, condições de reinserção social. Quando desses acontecimentos, muitas vezes essas pessoas buscam na Comunidade um refúgio. Portanto, é preciso buscar soluções para resolver esses problemas, com o intuito de evitar a cronificação e institucionalização do sujeito.
Em suas saídas, pratica a participação em grupos de auto-ajuda, reforçando o tripé de espiritualidade, Programa e disciplina. Preocupada com a possibilidade de desistência e recaídas, a Comunidade orienta seus residentes nesta fase com forte trabalho de prevenção da recaída, com material didático e orientação. Muitos, chegando ao término dos seis meses, notam a necessidade de permanecerem mais tempo no programa. Alguns ficam como estagiários, para auxiliar outros residentes.
Durante os 6 (seis) meses de acolhimento o residente vai se adaptando à Programação diaria a qual segue de acordo com os horarios
06:30 – Despertar (higiene pessoal, arrumação do quarto) 06hs45 – Café da manhã 07hs:15min – Atividade espiritual – meditação. 08:00 min – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 09:45 Hs – Descanso 10:00 Hs – Reunião de convivência. 11:00 Hs – Lazer 12:00 hs – 13hs20min Descanso 13hs30min-14hs45min – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 14:45 Hs – Descanso 15:00hs – Reunião de grupo, grupos operativos, mutua-ajuda 16:00 Hs – Lanche e lazer 18:00 hs. Jantar 19hs00min. -20hs00min – Atividade espiritual – meditação 20:00 hs -22hs lazer e lanche (21hs) 22hs Descanso – Dormir Horários- Sábado 06:30 hs Despertar (higiene pessoal, arrumação do quarto) 06:45 hs Café da manhã 07:15 hs– Atividade espiritual – meditação 08:00 hs – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 11:00 Hs – Lazer 12:00 -12:30 hs Almoço. 12:30 hs. Descanso 13:30 hs. – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 15:00 hs: Descanso, Lazer 16:00 Hs – Lanche 18:00 Hs – Jantar 19hs00 hs – Atividade espiritual – meditação 20:00 hs- lazer e lanche(21hs) 22hs Descanso – Dormir Horários- Domingo 07:00 hs –Despertar (higiene pessoal, arrumação do quarto) 07:30 hs – Café da manhã 08:00 hs – Atividade espiritual – meditação 09:00 hs. – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 10:00 Hs – Visita familiar e lazer 11:30 hs. – Banho, Termino da visita 12:00 -12:30 hs Almoço 12:30 hs. Descanso 14hs00min. – Promoção do autocuidado e da sociabilidade 15:00 hs Visita familiar e lazer 16:00 hs: lanche 17:00 hs – Término da visita 18:00 Hs – Jantar 19hs00 hs – Atividade espiritual – meditação 20:00 hs- lazer e lanche(21hs) 22hs Descanso – Dormir |